quarta-feira, 1 de junho de 2011

Natal como ti amo: leviana? Nem tanto.










texto: João da Mata Costa

Natal como ti amo: leviana? Nem tanto. Escrota; menos. Muitos disseram assim das suas cidades e mulheres. Natal banhada por rio e mar também tem suas graças …. um certo charme na sua decadência.
Precisa de um grande escritor para traçar suas ruas e becos. Reavivar sua memória esquecida. Salvador teve Jorge Amado. Alexandria teve um Ptolomeu. A Irlanda entrou no mapa do mundo com a escritura de James Joyce. A decadência de Natal tem o rosto da modernidade. E são dos resíduos com que se faz a grande literatura. Outros disseram de uma terra desolada.
O que Joyce escreveu sobre a Irlanda eu poderia transportar para Natal. Mas, eu não sou Giorgi e mesmo assim comemoro o bloomsday. A Irlanda também é bebum e ruidosa. “Terra de uma raça esquecida por Deus e oprimida pelos padres … a raça mais atrasada da Europa”.
Eu também poderia dizer isso de Natal, mas eu não sou Joyce. Prefiro andar por suas vielas e bares. Frequentar Zé Reeira e a garçonieri de Abimael. Tomar cerveja em Maria Boa. Entrar no cemitério do Alecrim e rezar um cantochão na igreja do Galo. Olhar o Potengi e namorar na pedra do Rosário.

Tudo que é proibido é bom. Só com compaixão, humor e lirismo vamos conseguir sangrar os mares desse Potengi amado numa das esquinas do mundo onde meu amigo Tácito “foi feliz e se deu bem”. Parafraseando Stephen Dedalus no Retrato do Artista quando Jovem, de James Joyce, referindo-se á Irlanda, eu diria de Natal ( eu que já sou meã ): “ Natal é uma porca velha que devora suas crias”.
Elas são tudo isso e mais alguma coisa e nós, mais safados ainda, a amamos.

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